Pelos vistos, enquanto Phelps mostrava em Atenas que há vida em Marte e Bolt se ria dos adversários, ocorreu na Eslovénia os Jogos dos Veteranos, abertos a velhinhos. Era vê-los a correrem e a saltarem como se não houvesse amanhã – e se continuam assim qualquer dia não há.
Era de facto impossível ver aquelas imagens sem ter medo que desse o abafanico a algum deles. Suados, bufavam-se por todos os lados, os cabelos a caírem, mas sem desistirem. E pelos vistos, há um português que papa tudo e já tem uma quantidade de medalhas de ouro no seu quarto. Com gente como esta, fomos para Pequim com o Obikwelu, que na prova em que foi eliminado é que parecia ter setenta anos e fazer retenção de líquidos.
Há inclusivamente um padre em competição, que estranha não ganhar a maior medalha. Os padres estão habituados ao ouro, quanto mais não seja nos dentes, e a ajuda divina também deveria ser um empurrãozinho jeitoso.
Santos velhinhos. Exemplos de vida, dizem eles. Para a vida de quem é que eu não sei. Para mim, o meu avô, esse sim, é um exemplo de vida. Um exemplo de que, afinal, existem recompensas.
Eu observo-o, de chinelos, a ler o Público. Botija de água quente e manta quando o frio aperta, ventoinha colada ao nariz em pleno Agosto. A televisão sempre ligada, alternando entre a SIC Notícias e a RTPN, uma espiadela rápida pelo decote da Catarina Furtado na RTP1. Sai para o seu passeio matinal, bem-disposto, guarda-chuva e gabardine bege no Inverno e chapéu no Verão. Vai comprar o jornal, ou melhor, os jornais, dois são rotina, um tem uma reportagem interessante sobre um qualquer assunto actual, cinco outros oferecem DVDs, um tem prémio ao sábado – não se sabe bem qual – e outro ainda, 24Horas, tem a Catarina Furtado na capa. Quando estou em casa dos meus avós, ainda me traz O Jogo. Uma fraqueza minha, não liguem.
Come muita fruta, e muita sopa. Ao jantar, come excepcionalmente coisa pesada. Uma sandes faz-lhe as medidas, para não se deitar muito cheio. Deita-se e tem televisão na cama. Vê as últimas notícias do dia antes de adormecer. Está sempre bem-disposto, tem uma piada natural, carismática, refinada.
Observo-o e penso “um dia ainda vou assim”. Eu observo os atletas que competiram nos Jogos de Veteranos e penso “espero morrer antes de ficar assim senil”.
O meu avô não corre há trinta anos. A única vez que o vi a correr foi atrás do chapéu que lhe voou. E não correu muito depressa. Mas já me ensinou como andar na rua sem estar curvado. E isso irá fazer maravilhas pela minha velhice.
Quando eu tiver cinquenta anos, não quero ter a forma física da Madonna. Quando eu tiver setenta, não quero correr maratonas. Mas quando tiver oitenta, quero ter os chinelos do meu avô.
De Paizinho a 14 de Outubro de 2008 às 10:19
São tão poucas as vezes em que nos vêem as lágrimas aos olhos por boas razões...
Obrigado, filhote
Bjs
(Para quem não sabe,, sou o filho do Midinho e pai do Di)
De andre a 12 de Outubro de 2008 às 00:01
ah k texto d crg, ate m vieram as lagrimas ao olho
Obrigado. Há até quem me chame escritor-cebola! ;)
Abraço!
De Anónimo a 11 de Outubro de 2008 às 23:39
Tenho de conhecer é os chinelos do Opa, nao acha Teresa?
Olhe que vou cobrar-lhe essa promessa e visitar a arte do "tal" artista. ( este "tal" nao é insultuoso
--')
Eu vou ao seu blog Teresa!
Sempre!
Mas tudo o que esta em alemao, tenho tendencia a fugir-lhe com os olhos, mas não é por nao gostar, acredite.
Um beijo para os avos do Di ^^
Rita M.
De TETÉ a 12 de Outubro de 2008 às 02:35
Ritinha, trata-me por tu, por favor!!!
Desde que ganhei os prémios escrevo no "ematejoca azul" só em portugues.
No "ematejoca" em alemao.
No "Baumgartl" ùltimamente em frances.
Em resumo: vai ao "ematejoca azul"!
De Isabel -BC a 11 de Outubro de 2008 às 23:28
Olá Diogo, obrigada por me teres enviado o mail, os fins de semana são complicados para mim, muita gente em casa.
Gostei imenso do post, com imenso humor.
Espero que de facto quando chegares à idade do teu avô, tenhas uns chinelos como os dele, que leias não o público porque já não existe, mas outro jornal qualquer, que vejas as meninas mas nessa altura não será certamente a Catarina Furtado pois já existirão outras Catarinas.
Mas essencialmente que sejas um velhinho muito querido atento a tudo o que se passa à tua volta, e que o mundo esteja bem melhor do que agora.
Beijinho
Isabel
De TETÉ a 11 de Outubro de 2008 às 21:48
Ritinha, nunca deves pedir desculpa quando dizes o que pensas. Eu nao sou da tua opiniao, mas respeito e aceito a tua.
Quando vieres visitar-me levo-te ao Skulpturenpark do Tony Cragg na Vila Waldfrieden em Wuppertal.
Pode ser, que entao gostes ao veres a simbiose: arte, natureza.
Tony Gragg é um escultor britanico e muito conhecido que vive em Wuppertal e comprou em Setembro deste ano a Vila Waldfrieden com um parque enorme onde estao 19 das suas esculturas. Hoje fui visitar esse parque com a Waltraud. Eu já tinha visitado várias exposicoes dele em várias cidades e sempre fui uma admiradora, mas depois de ver esse lindíssimo parque onde as suas esculturas ainda se tornam mais belas fiquei fascinada.
Desculpa, Diogo, de abusar do teu blogue. Mas o que é teu é da tua cara metade.
E nao sei se a Rita vai ler as minhas respostas ao meu blogue.
Hoje escrevi um comentário enorme sobre o texto do avó Midinho, mas a net caíu.
Então volta a escrevê-lo e põe-no, que eu gosto da critica! :)
Beijinho
De TETÉ a 11 de Outubro de 2008 às 22:49
Meu caro Diogo, nao era crítica nenhuma. Eram elogios ao "Le Grand Seigneur" e ao seu neto.
Um cheio de charme e elegancia e o outro com um talento enorme para escrever.
Quanto a ficares com o físico da Madona ou fazeres parte das maratonas, nao corres esse risco, seja em que idade.
Visita também o meu blogue. Tu és o culpado de eu andar na blogosfera. Agora tu podes dizer, que eu sou a culpada do tu andares neste mundo...
De Anónimo a 11 de Outubro de 2008 às 21:20
O avo Emidio é um Senhor de S maiusculo!
Bonito texto.
Bonito avo Emidio.
Eu nunca conheci um avo, mas se conhecesse, gostava que ele fosse assim.
Rita M.
É um bom avô, sim senhora :)
Beijinho
Mandar bitaite